Xangai, 4 de abril de 1941. Há 80 anos, a arquiteta Chu Ming Silveira - falecida em 1997, aos 56 anos em São Paulo -, em 1951 veio com a família para o Brasil, e em 1970 – quando era chefe do Departamento de Projetos da Companhia Telefônica Brasileira começou os estudos para implantação do sistema de telefone público, em 1972, os orelhões foram lançados no Rio de Janeiro e São Paulo.
De acordo com a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), atualmente no Brasil temos 188 mil aparelhos de telefone públicos neste modelo.
Para os mais velhos, na década de 80 eram utilizadas fichas de metal que permitiam a ligação e que deveriam ser substituídas quando eram “engolidas”.
Na década de 90, os cartões telefônicos foram inventados e então um visor digital, colocado em cima das teclas, foram instalados para os usuários identificar as os créditos do cartão e a duração das chamadas. Diversidade de estampas, coleções e temas não faltavam para quem utilizava o cartão telefônico, porém com o advento do smartphones e tablets, o mobile - o orelhão caiu em desuso. Ainda temos 160 mil orelhões em todo país. Nos anos 2000, o país chegou a ter 1,4 mi de orelhões.
Penha de França. Rua Santo Afonso, altura do nº 364. Quinta-Feira (24). 10h30. 16ºC.
Numa manhã calma de inverno, dois orelhões – um verde e outro roxo – acaba atraindo as atenções dos mais saudosistas. Os dois aparelhos, cada um com 16 teclas e etiquetado com o último selo de higienização, em fevereiro deste ano, não estão funcionando, estão vandalizados e se espante, servindo mesmo de lixo.
O autônomo Luiz Fernando, 35, estava de passagem perto dos aparelhos em sua caminhada matinal. Sem utilizar o orelhão há mais de 20 anos, o rapaz acredita que o equipamento não é mais utilizado e deveria ser repensado.
“Não utilizo o orelhão há muitos anos, hoje em dia a praticidade é pelo celular. A população acaba não utilizando e vem outra pessoa e vandaliza e depreda os aparelhos”, ressaltou Fernando.
Acostumado a priorizar o comércio do bairro, Fernando ainda narra um episódio em que viu ainda neste ano alguém utilizando o telefone público. “Outro dia estava no Shopping Penha, no piso térreo, e vi alguém ainda utilizando o orelhão com cartão e falando com alguém, achei aquilo estranho. Penso que deveria ser pensado em pontos de wi-fi e questões de segurança pública para não ser vandalizado”, disse.
Em dezembro de 2018, um decreto da ANATEL, consta uma alteração que diz que “dentre as alterações realizadas, consta o fim da obrigação da concessionária em manter orelhão a cada 300 metros nas localidades atendidas com acesso individual, e da obrigação de garantir a densidade de quatro orelhões para cada 1.000 habitantes por município”.
Com isto, houve uma redução com mais de 70% - quase 600 mil orelhões no Brasil – que foram desligados. São 40 mil telefones públicos somente em São Paulo.
A professora Simone Conceição, 55, explica que não utiliza mais o orelhão por conta do celular, mas que um tempo atrás utilizou o telefone público para falar com as filhas.
“Uma vez estava na região central precisando falar urgente com a minhas filhas, achei um orelhão e consegui falar com elas”, disse. A mulher ainda relembra que outra vez foi procurar um orelhão no Shopping Paulista e não encontrou algum sequer.
“Acredito que estes aparelhos precisam ser arrumados, fazer a manutenção adequada e pensar na prioridade que têm pessoas que ainda precisam deste aparelho. Colocar pontos de wi-fi de graça seria um sonho”, disse.
Sem utilizar o telefone público há mais de 15 anos, o advogado Bruno Santiago, 49, que mora quase em frente aos dois telefones públicos, explica que estes orelhões foram colocados ali há cerca de três meses, e que ele mesmo se questionou quando os aparelhos foram instalados.
“Poderiam fazer outras coisas, pontos de wi-fi ou algo que facilitasse para que não fosse preciso comprar, por exemplo, um cartão telefônico. Percebo que estes orelhões são apenas ponto de vandalismo e utilizado por usuários de drogas”, comentou.
Sobre o futuro da tecnologia, Santiago foi pontual e comentou uma proposta. “Deveria ser aplicadas as multas para este tipo de vandalismo, como também quando se joga papel no chão ou se vandaliza a cidade”, disse.
A ANATEL ainda explica que os orelhões continuarão existindo em locais estratégicos como delegacias, estações de metrô, aeroportos, shoppings, hospitais e delegacias. Neste fim de semana apenas um, o verde, dos dois aparelhos - estava funcionando.
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